Após mais de uma década de colaboração, a roteirista Lícia Manzo será dispensada da TV Globo em dezembro deste ano, marcando o fim de uma parceria que rendeu tramas aclamadas e importantes contribuições para a teledramaturgia brasileira. A decisão foi tomada em meio a uma série de mudanças na emissora, que busca renovar seu quadro de autores e se adequar a novos tempos e desafios. A saída de Lícia ocorre sem que a roteirista tenha novos projetos imediatos em vista, após o cancelamento de sua novela inédita, que estava prevista para ocupar a faixa das 18h.
Esse cancelamento, no entanto, abriu espaço para o roteirista Mário Teixeira, que foi convocado pela emissora para criar uma nova trama em tempo recorde. Intitulada “No Rancho Fundo”, a novela de Teixeira substituirá o projeto de Lícia e está sendo desenvolvida para estrear no horário que ela ocuparia. A rapidez com que a nova sinopse foi elaborada revela o ritmo acelerado da Globo em se adaptar às demandas de programação e reestruturações internas.
O Legado de Lícia Manzo
Lícia Manzo deixa a emissora com um legado respeitável, consolidado por obras marcantes, como as novelas “Sete Vidas” e “A Vida da Gente”, ambas transmitidas na faixa das 18h. Nessas produções, a autora explorou temas emocionais profundos, como relações familiares, amor e identidade, sempre com uma sensibilidade rara que cativou tanto o público quanto a crítica. Suas tramas não eram apenas entretenimento, mas reflexões poéticas sobre a vida, permeadas por personagens densos e realistas.
Além do sucesso em novelas, Lícia também brilhou no universo das séries, com colaborações em produções como “A Diarista” e “Tudo Novo de Novo”. Sua capacidade de abordar o cotidiano com leveza e complexidade lhe rendeu o respeito da classe artística e de seus colegas de trabalho. No entanto, sua última novela, “Um Lugar ao Sol” (2021), exibida no horário nobre das 21h, enfrentou dificuldades de audiência. Embora bem avaliada pela crítica, a trama não conseguiu atingir o sucesso esperado pelo público, o que gerou uma repercussão interna na emissora.
Reestruturação na Globo
A saída de Lícia Manzo faz parte de um movimento mais amplo da Globo, que vem realizando uma série de mudanças em seu núcleo de teledramaturgia. Nos últimos meses, a emissora tem se esforçado para renovar sua grade de autores, buscando um equilíbrio entre a tradição de veteranos e a inovação de novos talentos. Nesse contexto, nomes de peso como Aguinaldo Silva e Izabel de Oliveira foram recontratados, sinalizando o desejo da Globo de contar com a experiência de autores consagrados para fortalecer suas produções.
Parte dessa reestruturação envolve também a criação de um espaço colaborativo nos Estúdios Globo, dedicado exclusivamente aos roteiristas. Esse novo ambiente tem como objetivo fomentar o desenvolvimento criativo e promover uma troca de ideias entre autores de diferentes gerações e estilos. Além disso, a emissora está investindo em oficinas de capacitação para novos roteiristas, com foco especial nas novelas das 18h e 19h, que são vistas como importantes para a renovação do gênero.
O futuro da teledramaturgia na Globo
Apesar das saídas e mudanças no quadro de autores, a Globo continua valorizando seus roteiristas veteranos. Recentemente, os contratos de Rosane Svartman, Gloria Perez e Ricardo Linhares foram renovados, garantindo a presença de profissionais com vasto repertório e histórico de sucesso na emissora. Essa estratégia de mesclar nomes tradicionais com novas apostas é vista como uma forma de manter a relevância da dramaturgia da Globo, que enfrenta a concorrência de plataformas de streaming e o constante desafio de atrair o público jovem.
Ao mesmo tempo, a emissora reconhece a importância de buscar novas ideias e formatos que dialoguem com o comportamento atual do público. A renovação do elenco de roteiristas e o investimento em formação de talentos são medidas que apontam para o futuro da teledramaturgia, que, embora esteja em transformação, continua sendo um dos pilares da identidade da Globo.
A saída de Lícia Manzo, portanto, simboliza um ciclo que se fecha, mas também abre espaço para novos desafios e oportunidades na emissora. Embora a autora deixe saudades pelos seus trabalhos marcantes, a TV Globo segue sua jornada de renovação, procurando se reinventar sem perder de vista a importância das boas histórias e da qualidade narrativa que sempre foram suas marcas registradas.